Maria I can see you from here! Caetano, um dia, gritou do alto do norte da Europa.
É fato que todos nós podemos vê-la e ouvi-la. Assistir Bethânia é sempre inaugural. Vemo-la e ensamos em como a canção popular faz sentido no Brasil. Como faz sentido em nossos corações, em nossas mentes.
Bethânia é torre de grande altura. De lá, de onde nos contempla e para quem faz questão de estar presente, repetidas vezes - e sempre impressionantemente inédita - faz recobrir-nos elementos capazes de recriar sentimentos dos mais variados matizes. Certa feita, uma senhora em Salvador chegou a questionar o que faria com tantas emoções?! Não há resposta para esta questão em se tratando de Bethânia. Ela é criadora. Não é capaz de conter. Não é capaz de não se dar. Não ela.
Com água ou fogo ou mata ou terra; a natureza é transmutada em matéria; o espírito do intenso. Maria. Este é o seu primeiro nome. Maria também é mãe. Senhora das abissais e colossais manifestações do sentir. Nada pequeno, nada contido. Pianíssimos de voz quemais parecem absurdas frequências inaudíveis para ouvidos desacostumados. Rasgos da intenção e da competência para burilar em letras e sons as matrizes de nossa alma.
A aparição de Bethânia foi um acontecimento. Sua permanência, um presente do destino. Seu auge, uma certeza. Contrariando a lei mais certa do humano, Bethânia já não é mais finita. E essa sensação se apresenta na impressão eólica de sua presença. O vento é o eterno mutável do I Ching, tal como Bethânia. De tanto parecer igual, nos soa sempre como nova, como pertencente ao mundo da supra realidade cósmica, a partir de sua música e gestos e fala e todo o corpo a aparecer na Hora da Canção. Hora de Bethânia. Hexagrama de abismos, que é água sobre água na montanha; que não é senão o início da eletricidade, do fogo criativo. Caldeira de ar quente e hálito frio de sua mãe, senhora da vida e da morte.
Maria é Nossa Senhora do Perpétuo socorrei do ânima. Faz chorar e explodir em alegrias, ensinando a existência da realidade como ela comparece: viver é asim!
Lágrima por lágrima, Bethânia presenteia. Águas de Oxum? Cristais de Maria a Virgem? Chuvas de Oyá?
Cada página biográfica na estrada da música representa um passo de estrela que se permitiu sair (sem cair) do céu e passear entre nós. Bethânia tem nome bíblico. Antigo e Novo Testamento da Música Brasileira. Dalva e Calcanhoto. De Barro a Antunes. Debaixo d'água tudo é mais colorido. Cores de Bethânia. Cores da Bahia revivescidas na aquarela que a intérprete faz viver através da voz que canta no corpo.
Maria é uma vocação! Maria é promessa que se cumpre! A força de Bethânia já nasce no grito do carcará. Pegam mata e nos dá de comer. Comer poesia. Beleza e Tensão. Amor e Revanche. E, graças aos céus, o povo brasileiro aiknda hoje pode dizer em alto e bom som:
Bethânia, We can see you from here!
Carlos Barros

A foto tá muito legal!!! e esse texto....o que dizer dele? não sei!! mas estou aqui como espectadora pra tentar expor. Carlos, que prodígio, heim? em não tendo o que dizer, desejo que a poesia que nasce das palavras da grande Diva, graciosamente sussurradas no palco, ardendo nas ribaltas desses brasis, possam continuar a inundar de felicidade nossos dias.
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